quinta-feira, 12 de julho de 2018

Quem tem medo da crase?

"Esse 'a' tem crase?"

Nenhum "a" tem crase. Na escrita, às vezes o "a" recebe um acento grave e fica marcado como "à". Acontece que o imaginário popular dos falantes de português pensa que crase é colocar um acento no "a". O verbo (já dicionarizado) "crasear" deve ser entendido como "colocar o sinal de crase" e não "colocar o acento grave no 'a'".

Ponhamos bem dito: a crase nada mais é do que uma fusão entre o artigo feminino "a" e a preposição "a".

Por serem idênticas na grafia e na sonoridade, convencionou-se colocar o acento grave quando esse artigo e essa preposição se encontram.

Vou exemplificar.

O verbo "ir" requer a preposição "a".
O substantivo "escola" é feminino.
Logo, temos:

Vou a             +           a escola   =>    "Vou a a escola"   =>   Vou à escola 

Já reparou que nem sempre utilizamos o artigo feminino para nos referirmos a um substantivo feminino? Por exemplo, escrevemos "vou à cidade" ("cidade", substantivo feminino"), e, por outro lado, escrevemos "vou a Copacabana" ("Copacabana", substantivo feminino").

Por que ocorreu o fenômeno da crase no primeiro caso e não ocorreu no segundo?

Simples. Todos diriam, "vim da cidade", ao passo que ninguém diria "vim da Copacabana", mas sim "vim de Copacabana", ou seja, não se usa o artigo feminino diante de preposição para essa palavra. Logo, não ocorrerá o fenômeno da crase porque não há artigo.


Tendo a definição em vista, não há motivo para se preocupar com a crase.


DO GREGO AO PORTUGUÊS, DO LATIM AO PORTUGUÊS

Na língua grega, o verbo keránymmi (significado: "misturar") dá origem ao substantivo feminino krásis (significado: "mistura"). Daí o termo português "crase".

Foneticamente, na língua portuguesa essa "mistura" não está restrita apenas ao caso do "a" preposição e o "a" artigo.

Vejamos o caso da palavra "ler".
Do latim, temos "legere" (significado: "ler").
No português antigo, tivemos "leer", e hoje temos "ler"
Ora, nessa palavra também encontramos o fenômeno da crase: um "e" se fundiu a outro "e".
No entanto, por não ser necessário, não se marca esse fenômeno com nenhum tipo de sinal.
Caso contrário, a linguagem popular também traria: "esse 'e' tem crase?". 


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