"Esse 'a' tem crase?"
Nenhum "a" tem crase. Na escrita, às vezes o "a" recebe um acento grave e fica marcado como "à". Acontece que o imaginário popular dos falantes de português pensa que crase é colocar um acento no "a". O verbo (já dicionarizado) "crasear" deve ser entendido como "colocar o sinal de crase" e não "colocar o acento grave no 'a'".
Ponhamos bem dito: a crase nada mais é do que uma fusão entre o artigo feminino "a" e a preposição "a".
Por serem idênticas na grafia e na sonoridade, convencionou-se colocar o acento grave quando esse artigo e essa preposição se encontram.
Vou exemplificar.
O verbo "ir" requer a preposição "a".
O substantivo "escola" é feminino.
Logo, temos:
Vou a + a escola => "Vou a a escola" =>
Vou à escola
Já reparou que nem sempre utilizamos o artigo feminino para nos referirmos a um substantivo feminino? Por exemplo, escrevemos "vou à cidade" ("cidade", substantivo feminino"), e, por outro lado, escrevemos "vou a Copacabana" ("Copacabana", substantivo feminino").
Por que ocorreu o fenômeno da crase no primeiro caso e não ocorreu no segundo?
Simples. Todos diriam, "vim da cidade", ao passo que ninguém diria "vim da Copacabana", mas sim "vim de Copacabana", ou seja, não se usa o artigo feminino diante de preposição para essa palavra. Logo, não ocorrerá o fenômeno da crase porque não há artigo.
Tendo a definição em vista, não há motivo para se preocupar com a crase.
DO GREGO AO PORTUGUÊS, DO LATIM AO PORTUGUÊS
Na língua grega, o verbo
keránymmi (significado: "misturar") dá origem ao substantivo feminino
krásis (significado: "mistura")
. Daí o termo português "crase".
Foneticamente, na língua portuguesa essa "mistura" não está restrita apenas ao caso do "a" preposição e o "a" artigo.
Vejamos o caso da palavra "ler".
Do latim, temos "legere" (significado: "ler").
No português antigo, tivemos "leer", e hoje temos "ler"
Ora, nessa palavra também encontramos o fenômeno da crase: um "e" se fundiu a outro "e".
No entanto, por não ser necessário, não se marca esse fenômeno com nenhum tipo de sinal.
Caso contrário, a linguagem popular também traria: "esse 'e' tem crase?".